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Produtividade – Camada de Interface Parte 1

Em mais um post sobre a série sobre produtividade, vou escrever sobre a camada de interface. Por interface eu me refiro à web, já que é raro nós termos grandes desenvolvimentos de aplicativos Windows – e mesmo nestes casos não é algo problemático, o desenvolvimento em Windows Forms do .NET é bastante tranqüilo para aplicações de pequeno porte. Intrefaces baseadas em serviços também são super simples para serem construídas, ainda mais usando a WCF Factory. Assim, o foco é a construção de páginas web. Para não tornar este post muito longo, eu o dividi em duas partes.

Na minha experiência, o desenvolvimento de interfaces web é onde se gasta mais de 90% do tempo de desenvolvimento e manutenção de qualquer sistema de médio ou grande porte. É também onde a evolução tecnológica se faz mais sentir, a disseminação de uso do AJAX, por exemplo, mudou completamente o modo como se desenvolve para web. E para os usuários, a qualidade da interface e navegabilidade muitas vezes é um dos maiores fatores de sucesso ou fracasso de um sistema, fazendo com que o investimento nestes artefatos seja primordial.

Para ilustrar o que busco, vou começar descrevendo o que pra mim é o pior cenário possível para interfaces. Tenho certeza que quem desenvolve para web já viu algo assim em algum momento da carreira. Todo sistema começa bem e o ASP.NET WebForms ainda é o método mais comum de construção utilizado. Assim, no início da vida do sistema, as telas são feitas de maneira mais ou menos rápida. Porém com o tempo, os usuários pedem evoluções para suportar algo pouco usual, um ou outro desenvolvedor menos experiente acaba colocando sua “contribuição” para as telas e o que antes era simples se torna extremamente complexo. Depois de alguns anos (ou meses, dependendo do sistema), o que temos é uma coleção de aberrações, cada tela com código específico, com coisas indo pra sessão outras para viewstate, código inline (com o famigerado <% %>), regras de negócio em .cs de páginas (ou ainda, pesadelo dos pesadelos, no mais famigerado <% %>). Se o sistema foi portado do ASP então, a visão dantesca se completa, pois nestes caos é difícil encontrar qualquer coisa minimamente estruturada. O uso de componentes de terceiros ou frameworks só complica, pois também tendem a gerar ainda mais telas fora do padrão, com todos os tipos de “puxadinhos” imagináveis. Ou seja, em casos como este é muito mais fácil refazer a aplicação do que tentar arrumar. Porém quando se resolve reconstruir, o ciclo se repete e daqui a alguns anos (ou meses!) está tudo como era – normalmente deixando mais um legado para se manter, para a infelicidade de quem ficou.

Como resolver isto? Como desenvolver rapidamente e ainda assim gerar sistemas que não se autodestruam com a manutenção/evolução? A solução que eu uso são frameworks de interface que tentam garantir a estruturação das interfaces de uma maneira que facilite que os desenvolvedores fiquem em um padrão pré-estabelecido e ao mesmo tempo tentando gerar o máximo de flexibilidade possível. Nesta linha, eu tenho sistemas desenvolvidos há quase oito anos que continuam bem estruturados. Naquela época a amarração era tão forte que as telas produzidas eram muito simples, gerando sistemas de usabilidade ruim, comparando com os atuais. Porém existem vários operando até hoje que são simples de manter e (até hoje) de evoluir. De lá pra cá a evolução do framework já permite gerar telas extremamente amigáveis, mantendo ainda os níveis de manutenabilidade originais. Claro que esta não é uma solução para qualquer empresa ou time, o nível de treinamento e envolvimento com o framework é muito alto para ser facilmente replicável. Mas no nosso caso está sendo muito bem sucedido.

O framework utiliza um tipo de padrão MVC, porém com uma separação clara em 4 componentes: 1) Estruturas de Interface – aqui entram caixas de texto, checkbox, botões, listas etc. São itens que contém os dados sendo apresentados e que serão manipulados pelos usuários. 2) Layout – que é como as estruturas de interface são mostradas em tela. No layout entra toda a parte visual como estilos, manipulação visual (via jQuery por exemplo), controles, figuras e até coisas como uso de janelas popup ou chamadas AJAX. 3) Dados – utilizando um conceito que também utilizado no Microsoft Sharepoint, definido em uma ilha de dados XML que contém todas as informações que serão utilizados pela interface. 4) Controllers – controladores da interface, onde os dados são construídos e as ações executadas, fazendo uso das entidades de domínio e chamando os serviços da mesma.

Separando desta forma, fica fácil notar quais elementos são afetados quando há uma mudança, fazendo com que a mesma impacte o menos possível os demais. Esta estruturação faz com que o desenvolvimento de novas telas seja concentrado em 2 pontos, na definição de estrutura de interface e nos controllers. A clara separação existente evita que uma área afete outra.

Na minha experiência, o Layout é um dos pontos que mais evoluem na interface. Embora em linha gerais ele fique estático (p. ex., pode se definir que o sistema vai ter um cabeçalho com o nome do sistema, usuário logado e menu; no meio com uma área de formulários e listas e com inclusões em popup, tudo usando Ajax), as pequenas modificações acabam sendo freqüentes. É a inclusão de um novo elemento no cabeçalho, o suporte de uma lista hierárquica, um novo tipo de componente e assim por diante. Para garantir que não aja uma mistura de responsabilidades, eu uso XSLT para a definição de todos os artefatos de layout. Este é um dos pontos de maior dificuldade de aprendizado no framework, já que não é usual que desenvolvedores usem diariamente XSLT. Mas, como falei no post sobre princípios, o XSLT é uma linguagem declarativa que evita o uso de código imperativo e o uso de artefatos como sessão, viewstate etc. E uma vez dominado, o XSLT é extremamente eficiente para se gerar o HTML final (sem falar que já gera o HTML correto!).

Para gerar o HTML final, os arquivos XSLT de layout utilizam duas fontes de transformação: os dados e a estrutura de interface. Isto já faz com que os dados tenham que ser facilmente descritos em XML. Eu vou a um ponto mais extremo, fazendo com que todos os nossos dados sejam descritos somente em XML – também como é feito no Microsoft Sharepoint. Com isto, minimizamos o uso de objetos DTO e tornamos a estrutura de dados da interface completamente maleável e fácil de evoluir.

Finalmente, a estrutura de interface também deve ser descrita em XML, para que seja facilmente transformável. O que fizemos foi criar uma DSL, integrada ao Visual Studio (com intellisense, claro), para descrever cada elemento de interface. Vejam como fica um exemplo simples de um formulário de login:

Exemplo de DSL de Interface:

<Form defaultFocus="Login">
     <Field data="Login" type="textbox" required="true" label="Login"  />
     <Field data="Senha" type="textbox" required="true" label="Senha"  password="true" />
     <Command label=”Logar” action=”Login”/>
</Form>

Exemplo de XSLT de Layout (super reduzido para efeito de ilustração):

<xsl:stylesheet version="1.0" >
     <xsl:template match="Form">
          <html>
                <body>
                     <form method="post">
                          <xsl:apply-templates select=”Field|Command” mode=”Control”/>
                     </form>
                 </body>
           </html>
      </xsl:template>
</xsl:stylesheet>

No XSLT acima, cada Field é transformado em um input box e o Command em um button. Percebam que não há código inline – não existe o <% %>. Este tipo de arquitetura era muito dificil de ser construída e mantida no ASP.NET Webforms, o que tornava o framework bastante complexo. Felizmente com o advento de bibliotecas MVC, isto ficou muito mais simples. Inicialmente, criamos  uma View Engine para suportar esta DSL no Castle Monorail. Com o advento posterior do ASP.NET MVC, criamos uma a View Engine para ele que funciona com exatamente a mesma DSL e os mesmos arquivos de layout. Esta migração mostrou a capacidade de evolução do framework, o que me deixa tranquilo para encarar a manutenção dos nossos sistemas por, quem sabe, outros 8 anos por vir.

No próximo post vou explicar como as ações são executadas e entrar nos detalhes dos controllers, mostrando como isto tudo se integra.

Até breve!

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